
Por Ana Carolina C. e Tatiana Trindade
Na primeira metade do século XX ocorreram muitos conflitos bélicos que promoveram mudanças políticas-sociais, criando cicatrizes profundas na sociedade europeia que culminou em sentimentos pessimistas e de desesperança. Algumas correntes que apareceram nesse contexto, desejavam superar os traumas gerados pelos horrores das guerras e a opressão de regimes totalitários.
Diante desse contexto, a humanidade se encontrava em um vazio interior, pois sempre procurou dar razão ou sentido para a existência buscando respostas tanto na ciência quanto na religião, ou seja, nada conseguia explicar a angústia e o sentimento de solidão, que a geração da década de 1950 se encontrava.
Nesse contexto desolador surge uma nova corrente filosófica que vai ser denominada como existencialismo e o seu tema central é a morte, as relações consigo mesmo e o outro. Dentre os filósofos dessa corrente, temos Albert Camus com a sua obra O Mito de Sísifo, em que é recontada a história do herói grego que foi sentenciado pelos deuses a cumprir a inútil tarefa de empurrar uma rocha até o alto de uma montanha, entretanto, ao cumprir seu objetivo a pedra sempre torna a cair voltando ao seu estágio inicial.
Esse pensamento nos aproxima da ideia de que não existe maior punição do que o trabalho inútil e sem esperança. A pessoa que vivencia o sentimento de inutilidade e a alienação do sentido do seu papel social se perde de si mesma. Tal como defendia Karl Marx, lembra-se aqui, o conceito de alienação da atividade produtiva em que o trabalhador isento de usufruir dos resultados de seu próprio trabalho aliena-se também do gênero humano.
Logo, é clara a alusão para todos nós que fazemos parte da sociedade moderna, somos “Sísifos” , pois a nossa vida se repete constantemente. Trabalhamos a semana toda e esperamos ansiosamente o final de semana, como se algo fosse mudar, mas só recomeçamos tudo de novo na segunda-feira e esse ciclo se repete, todas as semanas, todos os dias, ou seja, a existência é absurda, pois a humanidade deseja e necessita de um sentido final, que não necessariamente terá.
O cenário cultural foi invadido pelos textos que eram voltados para essas questões filosóficas existencialistas. Os dramaturgos que estão inseridos no Teatro do Absurdo são Arthur Adamov, Eugène Ionesco, Samuel Beckett e Jean Genet. Importante, ressaltar que esses autores não faziam parte de um movimento artístico organizado, o termo “Teatro do Absurdo” foi criado pelo crítico Martin Esslin, que reuniu as peças que traziam como principais características:
- Solidão/ espera
- Incomunicabilidade
- Nonsense ( cenas sem um sentido justificado)
- Massificação ( fenômeno social em que as pessoas buscam se diferenciar, tornando-se iguais)
- Perda de referência do homem moderno , não existe a religião, figuras como Deus ou Diabo
- Existencialismo
- Situações banais, frases feitas e gestual cômico
- Peças quase sem enredo, que giram em círculos
- Acontecimentos insólitos
- Não linearidade
- Presença do insólito e da estranheza de personagens e temas
Essas características vão estar presentes não só nos textos, mas também na interpretação dos atores que podem ser exageradas, ou até mesmo mecanizadas, os espaços e cenários não precisam mudar de acordo com a situação, os figurinos podem seguir uma lógica ou não. Por exemplo, um personagem pode aparecer com um terno bem cortado e alinhado, representando um burguês, mas no meio do caminho aparece uma meia estampada, bem colorida destoando do restante.
Munidas dessas informações, tomamos a liberdade de criar uma aula cênica readaptando um trecho do texto dramático A Cantora Careca de Eugene Ionesco, em que explicamos o Teatro do Absurdo, utilizando suas principais características, segue abaixo:
A careca cantora – new generation um roteiro de Ana Carolina C e Tatiana Trindade 1ª cena – As atrizes estão sentadas com xícaras de café e colher de servir arroz, estão vestidas com uma cor única, de forma similar. Juntas começam a mexer a xícara. C: Hoje decidi falar sobre o Teatro do Absurdo T: Que curioso, hoje eu também decidi falar sobre o Teatro do Absurdo, que não é bem assim, um movimento artístico, com um manifesto que nem outros como o futurista, o dadaísta ou surrealista . C: Mas então, então talvez, minha cara colega,a verdade,foi o crítico Martin Esslin que agrupou vários autores teatrais que apresentavam em seus textos características parecidas. T: Que curioso que coincidência em 1950 Martin Esslin agrupou autores como Samuel Beckett, Eugênio Ionesco, Arthur Adamov e Jean Genet . Mas não entedo. |
C: Mas então, então talvez, minha cara colega, nesse tipo de teatro tem características como : a incomunicabilidade( …) e longos silêncios |
T: Que curioso que estranho, que coincidência, Essa incomunicabilidade, os silêncios se dão Porque as pessoas do início do sec XX “já não sabem pensar e não sabem pensar porque já não sabem se comover não tem paixão, as pessoas não sentem, logo não se expressam. Mas não entendo. |
C: Mas então, então talvez, minha cara colega, nesse tipo de teatro tem características como a solidão e espera, a consciência de que estamos sozinhos no mundo e uma descrença na esperança. T: Que curioso, que estranho que coincidência, são características da sociedade europeia pós guerra, que está sem referência, não acredita mais nem na religião e nem na ciência, no texto do Samuel Beckett , Esperando Godot, fala dessa ausência na crença em um Deus, na espera de algo indefinido que pode ser ele, a esperança, o amor, a justiça, as coisas melhorarem… pensamento existencialista em que o homem se percebe só.Mas não entendo… C: Mas então, então talvez minha cara colega, esse pensamento existencialista é uma corrente filosófica, que defende que o homem é totalmente responsável pelos seus atos, Dessa forma a ideia de que existe um deus ou um demônio interferindo no curso de suas vidas não existe mais, isso gera muita angústia pois você não tem a quem culpar. No teatro do absurdo vamos ter essa expressão trágica e sensação de perda diante do desabamento de certezas absolutas T: Que Curioso, que estranho, e que coincidência, neste teatro do absurdo, nas peças teatrais, os personagens tinha uns comportamentos estranhos e bizarros. C: Mas então, então talvez minha cara colega, muitas vezes o comportamento destes ocorriam sem nenhuma motivação ou intenção. T: Que curioso, que estranho e que coincidência, e quando nestes textos os enredos teatrais eram absurdos, muitos deles sem possibilidades de existirem na vida real, apresentando situações inusitadas ou ilógicas. C: Mas então, então talvez minha cara colega em O rinoceronte de Eugene Ionesco, as pessoas da cidade vão se transformando em rinocerontes de forma literal, e mesmo o protagonista resistindo ele acaba virando rinoceronte também. Parece muito absurdo, mas no texto o autor está falando de um fenômeno comum na sociedade que é a massificação. T: Que curioso, que estranho que coincidência, Eugéne ionesco também escreveu a cantora careca que tem a característica de ser antitemático que a gente fica esperando durante todo o tempo da peça aparecer uma cantora ou uma cantora careca uma pessoa careca ou uma pessoa cantando careca e não aparece. Mas eu não entendo C: Mas então, então talvez minha cara colega, em A cantora careca percebemos a não linearidade e trechos oníricos, cenas que parecem sonho, diálogos que se repetem, ações não ligadas com o que está sendo dito. Você compreende ? ( Tatiana e Carol, falam Sim negando com a cabeça + ação de quebra – exercício teatral de respiração) C: Eu te conheço de algum lugar? T: Não me recordo. C: Eu, eu sou atriz. Global, a namoradinha do Brasil, eu sou Universal. T: Que curioso, que estranho, que coincidência, eu também sou atrizzzzzz. Congela. |
Entra uma pessoa como detetive D: É inútil A Tatiana achar que é Tatiana, é inútil a Carolina achar que é Carolina, é inútil elas acharem que são atrizes, na verdade Tatiana não sabe é que ela é a Carol e que a Carolina não sabe que ela é a Tati e as duas na verdade não são atrizes, elas são (suspense) ….professoras de artes cênicas. |
Para saber mais:
CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.
CARLSON, Marvin. Teorias do Teatro: Estudo Histórico Crítico dos Gregos à atualidade, São Paulo: Editora UNESP, 2002.
ESSLIN, Martin. O teatro do absurdo, Rio de Janeiro: Zahar, 1968
IONESCO, Eugène. A cantora Careca
PAULA, Luciano de, Cena em sala : ensino médio, volume 3, Brasília, HTC, 2015